sábado, 11 de julho de 2009

Que retirada??? A farsa americana... o mundo tem que acordar!!!


por Ramzy Baroud*, Al-Ahram Weekly, Cairo

Traduzido pelo coletivo Política para Todos

Nem bem os soldados dos EUA chegaram à periferia das grandes cidades iraqueanas, dia 30/6, começaram as celebrações da 'retirada', cuidadosamente cenografadas. O governo iraqueano pró-EUA declarou "dia da independência" e carros blindados percorriam as ruas de cidades que a guerra destruiu, num arremedo patético de júbilo nacional. Todos os jornais da mídia favorável aos EUA acompanharam o coro, como se ali estivesse o final de uma era.

Ao mesmo tempo, funcionários do governos dos EUA e oficiais do exército preveniam os iraqueanos contra o risco de agitação social. "Biden alerta Iraque sobre o risco de o país ceder à violência sectária", lia-se numa manchete do New York Times. "O que estamos esperando para sair do Iraque?" perguntava um analista num Kansas City Star. Não se viu, nem nas manchetes nem nas análises, qualquer sinal de que os EUA estejam preparados para assumir responsabilidades pela tragédia que se abateu sobre o Iraque.

Quem garante que as ambições dos EUA no Iraque mudaram, se o que os EUA fizeram no Iraque ainda é considerado mais como 'tropeço estratégico', do que como erro moral?

O que absolutamente não muda é a arrogância que sempre marcou o modo como os EUA veem o Iraque. "O presidente e eu entendemos que o Iraque já avançou muito, no último ano, mas ainda há um longo caminho à frente, até que o Iraque construa condições de paz e estabilidade duradouras," disse o vice-presidente Biden em visita a Bagdá, dia 3/7. A fala de Biden veio saturada da mesma hubris que caracterizou o governo Bush, em relação ao Iraque.

"Ainda não acabou" – disse Biden. Tem razão. Para que tudo possa acabar, é preciso que todos os soldados dos EUA saiam do Iraque; que tenha fim a interferência em assuntos iraqueanos; que os EUA levem embora todos os políticos corruptos que minaram a democracia iraqueana e fortaleceram os grupos sectários dentro do governo.

A maioria dos norte-americanos está hoje convencida de que a guerra do Iraque nasceu de uma falsidade. Rapidamente culpam o ex-presidende Bush por ter lançado os EUA numa guerra caríssima que jamais deveria ter acontecido. A eleição do presidente Obama parece ter inaugurado um novo discurso de honestidade e de autoexame de consciência nacional nos EUA.

A verdade é que os EUA ainda não saíram do Iraque; que a retirada é apenas parcial. E pouco se escreve sobre as intenções dos EUA em relação ao Iraque.

Os termos "retirada" e "saída estratégica" dominam todas as análises e discursos da mídia relacionados ao Iraque. Para alguns, essa mudança de linguagem seria feito do novo governo. Mas a recente redistribuição dos exércitos dos EUA não é obra do governo Obama, mas decisão que já estava tomada desde novembro de 2008, por acordo assinado entre o governo iraqueano de Nuri Al-Maliki e o governo Bush. Já se sabia que os EUA fariam uma espécie de 'retirada' do Iraque desde antes de Obama ter sido eleito. O governo Obama apenas cumpriu compromissos já firmados pelo governo Bush. Pelo mesmo acordo, os EUA deverão retirar mais 50 mil soldados do Iraque até agosto de 2010; e a maioria das tropas permanecerão no Iraque até o final de 2011.

Então... em 2012, o Iraque será, afinal, independente? Nada disso! "Muitos especialistas creem que os EUA terminarão por conseguir estabelecer e manter no mínimo duas bases militares permanentes no Iraque", escreve Matt Schofield. "São bases consideradas essenciais para assegurar a estabilidade do governo iraqueano, onde haverá militares leais aos EUA e capazes de defender o governo democrático iraqueano."

Linguagem tortuosa, que visa a esconder que continuará a haver presença militar permanente dos EUA no Iraque... sinônimo, de fato, de ocupação permanente. É claro que os EUA não precisam ser visíveis em cada esquina, para que o país esteja eficazmente ocupado. O exército e a polícia iraqueanos sectários – e treinados e armados pelos EUA – cuidarão de fazer as coisas andarem como mais interessem aos EUA (sempre sob o pretexto de que seja necessário combater o terrorismo), ao mesmo tempo em que os EUA "manter-se-ão prontos a auxiliar no processo, se for necessário e se forem chamados" – como disse o vice-presidente Biden.

O Iraque sairá das manchetes, deixará espaço para a escalada no Afeganistão, também em nome de combater terroristas, implantar a democracia e toda o resto. Os rostos das vítimas serão escondidos, para não ferir suscetibilidades. O número de baixas entre os civis será manipulado e, de tempos em tempos, divulgado como "dano colateral" explicável por que os terroristas escondem-se entre a população civil. Em outras palavras, os EUA levarão o espírito da guerra do Iraque para o Afeganistão; mas não sairão do Iraque – onde permanecerão o mais invisivelmente possível. Assim garantirão o sucesso de seus objetivos militares estratégicos e, sendo preciso, culparão o Iraque e o Afeganistão por todas as desgraças que desabem sobre as populações.

Contudo, antes de que o mundo esqueça-se do Iraque e olhe em outra direção, os EUA devem saber que são responsáveis por tudo que aconteça no Iraque.

A comunidade internacional, os ativistas anti-guerra e as pessoas de consciência, no Iraque e em todo o mundo, não podem esquecer que 130 mil soldados dos EUA permanecem e permanecerão no Iraque; que os EUA controlam completamente o espaço aéreo iraqueano e todas as fontes de água; que nada há para celebrar, na atual 'retirada'. Ainda que haja quem seja suficientemente crédulo para acreditar nas 'declarações' do governo e do exército dos EUA sobre seus próprios movimentos no Iraque, é necessário lembrar o que disse o Almirante Mike Mullen, em fevereiro passado: "O governo Obama planeja deixar no Iraque uma 'força residual' de dezenas de milhares de soldados encarregados de treinar as forças de segurança iraqueanas, de caçar terroristas e de proteger instalações e instituições dos EUA no Iraque."

Um Iraque soberano, democrático e estável não existirá enquanto a verdade e o bom-senso continuarem a ser ocultados e reprimidos.


* Ramzy Baroud é jornalista, editor de PalestineChronicle.com

Nota do Thalera: Revolução já!!!

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