domingo, 22 de março de 2009

Festa na Paulista (e na 'Folha de S.Paulo'): Lula cai...


“Com crise, cai aprovação de Lula”: esta é a manchete desta sexta-feira, 20 de março, da Folha de S.Paulo. No alto dá página, de ponta a ponta da capa. A matéria, que ocupa mais três das páginas nobres do jornal, apresenta os resultados de nova pesquisa do Datafolha, realizada entre 15 e 19 de março.

Por Celso Marcondes, na CartaCapital

Ela dá conta que da pesquisa de 28 de novembro até esta, a porcentagem de brasileiros que avaliam o governo Lula como “ótimo e bom” caiu de 70 para 65%, enquanto as que consideram “regular” foram de 23 para 27% e as que acham que o governo Lula é ruim ou péssimo subia de 7 para 8%.

Na primeira página interna com a matéria, o título é “Aprovação a Lula cai pela 1ª vez no segundo mandato”. Outros gráficos mostram também que cresceu o número de brasileiros que tomaram conhecimento da crise econômica mundial (de 72 para 81%) e que diminuiu o índice daqueles que aprovam o desempenho da equipe econômica do governo (de 61 para 53% de ótimo e bom).

Chama a atenção um gráfico inédito na história do instituto: ele compara, ilustrando com fotos dos dois, cara a cara, o desempenho do presidente Lula com o do presidente Obama. Ficamos sabendo que o americano tem um porcentual de 44% de ótimo/bom contra 43 de Lula. O texto não explica se foi o Datafolha quem fez a pesquisa sobre a popularidade de Obama. O articulista supõe que não, que a pesquisa é de algum instituto americano, feita com critérios, metodologia e datas diferentes.

Porém, mesmo querendo crer que o Datafolha tivesse realizado o levantamento de norte a sul dos EUA, ficaria a certeza de que a comparação é absolutamente descabida, por vários motivos, entre eles o de que um começou o mandato há menos de três meses e o outro há mais de seis anos. Talvez a relação mais sensata fosse a que comparasse os índices de aprovação de FHC em seus momentos de crise com os de Lula, mas isso já seria querer demais do jornalão paulista.

A segunda página dedicada à pesquisa diz no título que o “Pessimismo com o emprego atinge recorde” — antes eram 44% os que achavam que ia aumentar, agora são 59%. Seguem- se, entre outros, gráficos mostrando que este passa a ser o principal problema do país e que caiu de 71 para 65% o índice de brasileiros que entendem que não correm o risco de serem demitidos.

Já a terceira página dedicada aos resultados da pesquisa traz como manchete “Serra lidera com folga, Dilma volta a subir”. E aí vem outra novidade: em vez de usar como referência para a análise o período entre as pesquisas de novembro e março, como fizera nas páginas anteriores, para destacar melhor a ascensão de Serra é usada como base de comparação a pesquisa de março de 2008, mostrando uma subida do governador paulista de 38 para 41% — isso se não for levada em conta a margem de erro da pesquisa, dita de 2%.

Se a base de referência fosse novembro, poder-se-ia ver com clareza que Dilma subiu de 8 para 11%, enquanto Serra mantinha-se em idênticos 41%. Ou seja, Dilma subiu em plena crise. Mas aqui também seria querer demais que o jornal destaca-se este fato.

A sensação que fica ao terminar de ler a muita extensa cobertura é de que a Folha deveria ter distribuído como brinde para seus leitores juntamente com esta edição um pacote com fogos de artifício e outro com confetes e serpentinas. Bastaria juntar os quatro títulos das cabeças de página. Repetindo:

“Com crise, cai aprovação de Lula”.
“Aprovação a Lula cai pela 1ª vez no segundo mandato”
“Pessimismo com o emprego atinge recorde”
e, para fechar com chave de ouro,
“Serra lidera com folga, Dilma volta a subir”.

Não faltou na pesquisa, outra novidade, uma pergunta mais que importante: você concorda com a frase (de quatro meses atrás) do presidente Lula de que a crise será apenas “uma marolinha”? Ficamos sabendo que, em novembro, 42% concordavam com ela, agora são 35%. Ah, bom.

De fato, a edição desta sexta-feira da Folha, muito diferente de todos os outros grandes jornais do país, nos dá uma importante contribuição para a compreensão dos alcances da crise econômica e das limitações do atual governo para enfrentá-la. Poderei passar o final de semana com mais dados para reflexão.

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